As ilustrações do passado arqueológico: entre interpretação científica, testemunho e memória social
Author(s)
Flon, ÉmilieKeywords
memória socialpatrimomialização
mediação
Arts & Humanities
Information Science & Library Science
LAN025020
GLC
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http://books.openedition.org/oep/873Abstract
As pesquisas arqueológicas dão origem, desde o século xix, a representações gráficas ou plásticas dos homens do passado, de seus comportamentos, relações sociais e estilo de vida. Os arqueólogos utilizam frequentemente suportes outros que a publicação científica para divulgar informações ou suas descobertas junto a um público mais amplo do que o composto por seus pares. Dessa forma, lançam mão de ilustradores para representar o passado arqueológico em publicações destinadas a um público amplo ou ainda em exposições. A contribuição ora apresentada objetiva examinar o papel das ilustrações do passado arqueológico no processo de construção social do passado. Tais representações gráficas instigam inúmeras questões nos próprios arqueólogos, uma vez que são uma interpretação do passado alimentada pelo estado dos conhecimentos arqueológicos num momento dado, mas também devido ao contexto de trabalho dos arqueólogos e artistas: seus preconceitos, opiniões, e mais globalmente, sua cultura visual e social. Essas ilustrações questionam ainda os processos de patrimonialização e de memoração do passado. Elas são, por sua lógica de produção, ao mesmo tempo, uma representação do conhecimento científico num momento dado e uma obra que tem dimensão artística e é criada por um indivíduo. Em suma, o ilustrador é colocado na condição de representar cenas do passado a que ele não assistiu, mas que ele deve, em sua maior parte, ser capaz de atestar. Isso não significaria produzir uma espécie de memória do passado arqueológico, de memória legítima de um passado, no entanto inacessível? A hipótese aqui desenvolvida é a de que o ilustrador de arqueologia ocupa a mesma posição social de que da testemunha ocular no contexto social cotidiano, jurídico e histórico. De um ponto de vista sociológico, a definição da verdade fatual não depende mais de uma capacidade individual para se recordar ou representar a realidade do passado. O testemunho se define fundamentalmente (1) pelo duplo discurso que fornece: ao mesmo tempo, participação no reconhecimento dos acontecimentos como fatos reais e julgamento emitido sobre essa realidade;(2) por seu estatuto, que se baseia na audiência e na confiança concedida à testemunha. Esses dois pontos associam a ilustração do passado arqueológico e o fenômeno do testemunho. Nossa reflexão baseia-se em materiais que traduzem a existência social da ilustração no contexto científico da arqueologia, e no contexto de sua divulgação para os públicos. O corpus é composto, de um lado, por entrevistas feitas com os seguintes ilustradores, considerando suas práticas e produções: Jean-Claude Golvin e Benoît Clarys. De outro, é formado por documentos relativos às suas práticas e produções: uma revisão da literatura sobre a problemática da ilustração em arqueologia, uma série importante de artigos escritos por Jean-Claude Golvin sobre as regras de produção das ilustrações, catálogos de exposição contendo textos sobre as ilustrações e seus processos de realização e, enfim, as próprias ilustrações.Date
2015-02-12Type
info:eu-repo/semantics/bookPartIdentifier
oai:books.openedition.org:oep/873urn:doi:10.4000/books.oep.873
http://books.openedition.org/oep/873
urn:eisbn:9782821853539
urn:isbn:9782821853522