Em desagravo do santíssimo sacramento: o "Conventinho Novo": devoção, memória e património religioso
Contributor(s)
Câmara, Maria Alexandra Trindade Gago daKeywords
MulheresHistória de Portugal
Religious heritage
História religiosa
Eucharistic devotion
Idade contemporânea
Infant D. Maria Ana
Ordens religiosas
Profanation of Saint Engrácia
Património cultural
Franciscans’ influence
Memory
Conventos
Full record
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http://hdl.handle.net/10400.2/691Abstract
Dissertação de Mestrado em Estudos do Património apresentada à Universidade AbertaResumo - Erigido num período bem pouco afecto à instituição de casas regrais, o Conventinho de Lisboa cedo se veria ameaçado pelas crescentes restrições que decretariam o definhar da existência congreganista. Ao breve e espinhoso percurso deste cenóbio poria termo, não muito tempo transcorrido sobre a sua já tardia fundação, a inexorável extinção das ordens religiosas femininas. Deixando na penumbra o seu passado, o ocaso do mosteiro instituir-se-ia, muito embora, como ponto de partida para a reabilitação do seu valor enquanto lugar de memória, valor a que a vaga de zelo que hoje infunde o olhar sobre o património vem entretanto dar forma. Por detrás dos muros anódinos deste objecto feito vestígio, afloração ténue de um passado disperso e desvanecido, arquitectónica e urbanisticamente inexpressivo, esconde-se um percurso complexo e suculento que, ultrapassando as balizas institucionais do seu nascimento e morte, reflecte, no tempo longo do Antigo Regime, na assunção das Luzes e na transição para o Liberalismo, as vicissitudes do religioso e não menos do político. Decidiria D. Maria Ana, secundogénita de D. José I, instituí-lo como memorial de desagravo ao Santíssimo Sacramento profanado em 1630 ao altar de Santa Engrácia, no tão celebrado desacato daquele templo lisboeta que não apenas abalaria a capital como – disse-se então - a inteira cristandade. A cerca de século e meio daquele momento fundador, o mosteiro parecia guardar-lhe, incólume, a memória que o seu sui generis programa espiritual, espacial, estético e iconográfico tão solicitamente acolhera. De onde a intrigante implantação que lhe conhecemos - no exacto lugar onde haviam sido encontradas as sagradas formas do desacato - ou mesmo a presença, na igreja monástica, de painéis azulejares alusivos ao episódio de 1630. De onde, também, a dimensão da comunidade, significativamente em número de trinta e três, numa alusão directa à idade de Cristo e ao número das hóstias profanadas. À curiosa recuperação de uma vocação que o tempo e a emergência de novos contextos poderiam ter eventualmente aluído, não seria alheia uma dimensão fortemente circunstancial, que envolveria a devoção eucarística e o vínculo à espiritualidade franciscana num programa de apropriação mnemónica onde se jogou a vontade dos monarcas e dos seus mais próximos validos
Résumé - Érigé lors d’une période peu encline à l’établissement de maisons religieuses, le Nouveau Monastère, dénommé Conventinho Novo, de Lisbonne se verra rapidement menacé par les croissantes restrictions qui décrétèrent la décadence de l’existence congregationniste. À ce bref et épineux parcours du couvent, peu de temps après sa fondation tardive, y mettra fin l’inexorable extinction des ordres religieuses féminines. Laissant dans la pénombre son passé, le déclin du monastère s’érigea, cependant, comme point de départ pour la réhabilitation de sa valeur en tant que lieu de mémoire, valeur à laquelle la vague de zèle qui, aujourd’hui, inspire le regard sur le patrimoine, vient toutefois donner forme. Derrière les murs anodins de cet objet fait vestige, affleurement ténu d’un passé dispersé et effacé, inexpressif du double point de vue architectural et urbanistique, se cache un parcours complexe et riche qui, en dépassant les balises institutionnelles de sa naissance et mort, reflète, dans le temps long de l’Ancien Régime, dans l’avènement des Lumières et dans la transition vers le Libéralisme, les vicissitudes du religieux et non moins du politique. D. Maria Ana, seconde fille de D. José Ier, décida de l’instituer comme mémorial de réparation au Saint Sacrement profané en 1630 à l’autel de Sainte Engrácia, dans la tant célébrée profanation de ce temple lisbonnais qui non seulement secoua la capitale comme - disait-on alors - l’ensemble de la chrétienté. À environ un siècle et demi de ce moment fondateur, le monastère paraissait le garder intacte la mémoire que son programme spirituel, spatial, esthétique et iconographique, sui generis, accueillit avec tant de sollicitude. D’où l’intrigante implantation que nous lui connaissons - à l’endroit exact où furent trouvées les hosties de la profanation - ou même la présence, dans l’église monastique, de panneaux d’azulejos allusifs à l’épisode de 1630. D’où, en outre, la dimension de la communauté, au nombre significatif de trente trois membres, comme allusion directe à l’âge du Christ et au numéro d’hosties profanées. À la curieuse récupération d’une vocation que le temps et l’urgence de nouveaux contextes purent avoir éventuellement ébranlé, n’était pas étrangère une dimension fortement circonstancielle, qui impliqua la dévotion eucharistique et le lien à la spiritualité franciscaine dans un programme d’appropriation mnémonique où se joua la volonté des monarques et de leurs plus proches favoris
Abstract - Constructed in a period of little propensity for instituting religious establishments, the Monastery of Lisbon, known as Conventinho Novo, was soon threatened by the growing restrictions that dictated the decay of the existence of congregations. To the short and thorny path of this monastery, after little time has passed from its late foundation, the inexorable extinction of the feminine religious orders would put an end. Leaving in the shadows its past, the decline of the monastery would settle itself, however, as a point of departure for the rehabilitation of its value as a place of memory, value that the wave of zeal, which today influences the eye on the heritage, gives nevertheless form. Behind the insignificant walls of this object made vestige, delicate blossom of a disperse and vanished away, architecturally and urbanistically inexpressive, lies a complex and interesting course that, moving beyond the institutional landmarks of its birth and death, reflects, in the long durée of the Ancien Régime, the advent of the Enlightenment and the transition to liberalism, the vicissitudes of the religious and of the no less political institutions. D. Maria Ana, second daughter of D. José I, founded it as a memorial to the reparation to the Holy Sacrament profaned in 1630 at the altar of Saint Engrácia, in the much celebrated profanation of that temple of Lisbon which shook not only the capital but also – as it was said then – the entire Christendom. From about one and a half century after the time of its foundation, the monastery seemed to keep, unaltered, the memory that its sui generis spiritual, spatial, esthetical and iconographic program with such solicitude had welcomed. From where the intriguing establishment that we know – in the very place where the consecrated wafers were found right at the just after the profanation – or even the presence, in the monastic church, of glazed tiles pictures (painéis azulejares) alluding to the 1630 incident. From where, also, the dimension of the community, significantly, composed of thirty–three members in a direct allusion to the age of the Christ and the number of the profaned consecrated hosts. To the curious recuperation of a vocation, that the time and emergence of new contexts could have by accident fallen, a strong circumstantial dimension was not alien that implied an Eucharistic devotion and a bond to the Franciscan spirituality in a program of mnemonic appropriation where the will of the monarchs and their closest favorites played
Date
2009-01-26Type
masterThesisIdentifier
oai:repositorioaberto.univ-ab.pt:10400.2/691http://hdl.handle.net/10400.2/691